Analista de rodinhas


23h30min, estaciono o carro, pego o skate no porta malas e ajeito meu fone. Um olhar desconfiado do seu "gualda" no outro lado da rua, mas ficou por isso. Dessa vez ele não encheu, talvez porque sentiu o que eu queria. Quebrar calçadas ou arranhar corrimões não estavam na pedida.

O som das rodinhas no asfalto misturado a música escolhida com calma, é a trilha sonora da noite. A lua escondida pelas poucas nuvens transforma o que durante o dia é uma movimentada e caótica rua do centro da cidade, em uma paisagem de sonhos para o skate a essa hora da noite.

Percebo alguns poucos olhares e imagino: se não fosse skatista e presenciasse uma cena dessas, um maluco com fones de ouvido andando sobre uma tábua com quatro rodas durante uma hora dessas da noite?

Sinceramente? Eu sentiria inveja, se não andasse de skate.

Ando há 18 anos, já fiz algumas loucuras, algumas manobras tentadas exaustivamente, alguns momentos de adrenalina de tirar o fôlego, mas nada comparado a essa sensação: braços abertos, vento no rosto, passadas sem pressa, sem manobra alguma, apenas voando pelo asfalto...

Algumas pessoas resolvem seus problemas descontando em outros, às vezes até em pessoas que estão ao seu lado e só o(a) querem bem. Por experiência própria eu aprendi que isso não vale a pena, aprendi que raras pessoas estão integralmente com você e não vale a pena afastá-las, muito menos maltratá-las por motivo algum, mesmo que esse motivo te deixe "puto" da vida.

Eu organizo minha mente, ponho tudo no lugar embalando por aí e deixo tudo de ruim da semana ou do mês esparramado pelo asfalto.

Já pensei em fazer análise, mas hoje tive a certeza de que já faço, só não tinha percebido ainda.

Por: Deivis (Se me encontrar com fones e skate no meio da noite, não me chame, estou em análise...)